Período eleitoral foi marcado por visões divergentes quanto à elegibilidade do atual mandatário
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) terá um novo presidente no ciclo rumo aos Jogos de Los Angeles-2028. Nesta quinta-feira (3), em eleição na sede da entidade, no Rio de Janeiro, Marco La Porta e Yane Marques, sua vice, derrotaram o atual mandatário, Paulo Wanderley, que concorria em chapa com Alberto Maciel Júnior, por 30 votos a 25.
Diferencial
Foram determinantes para a vitória de La Porta os 19 votos da Comissão de Atletas, que no último pleito havia apoiado Wanderle e desta vez foram em bloco na oposição. A presença de Yane na chapa do futuro presidente também tem um peso histórico, pois nunca antes uma mulher havia chegado a um cargo de tamanha importância no organograma da maior entidade esportiva do país.
De quebra, o resultado afasta o temor de bloqueio dos repasses da verba pública. É que a candidatura de Wanderley, que agora deixará o cargo de presidente no último dia deste ano, se deu em meio a grande polêmica. Seus opositores alegavam se tratar de um terceiro mandato, o que é proibido por lei, enquanto o cartola argumentava que tentava sua primeira reeleição, porque em 2017 fora alçado à condição de presidente em virtude do afastamento de Carlos Arthur Nuzmann.
De acordo com a legislação brasileira, "as entidades sem fins lucrativos componentes do Sistema Nacional do Desporto somente poderão receber recursos da administração pública federal direta e indireta caso seu presidente ou dirigente máximo tenham o mandato de até quatro anos, permitida uma única recondução" (cláusula prevista na Lei Pelé desde 2013). Boa parte da verba que irriga os cofres do COB e de seus confederações é proveniente da Lei Angelo Piva, que poderia ser bloqueada.
Trajetória de Yane Marques rumo à vice-presidência do COB
Aos 40 anos, mãe de Maya, de 4 anos, Yane liderava a Comissão de Atletas do COB desde 2021 e se desligou do cargo para concorrer às eleições na chapa com La Porta. Em paralelo, ocupava o cargo de Secretária Executiva de Esportes Educacionais no Recife. Ela é medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, no pentatlo moderno, e foi convidada para ser vice de todos os postulantes ao cargo de presidente em 2020. À época, a ex-atleta preferiu se engajar na CACOB.
Após vinte anos da carreira esportiva, em 2013, ela se tornou uma dos 12 membros do grupo de atletas que conquistou participação ativa nas decisões do COB (hoje esse número é de 19). Na eleição de 2016, além de membro, foi eleita vice-presidente, ao lado do ex-judoca Tiago Camilo, em um ciclo marcado pelo aumento da representatividade da Comissão de Atletas nas assembleias e votações da entidade, como a eleição presidencial.
Nascida em Afogados da Ingazeira, a pernambucana ainda é a única atleta da América do Sul a ter conquistado uma medalha olímpica no pentatlo moderno, esporte muito masculinizado, como ela própria já ressaltou: “A minha modalidade só teve representação feminina nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000. De 1912 até 2000, só homens competiam”.
Agora, embalada pelos grandes resultados das mulheres brasileiras nos Jogos de Paris, únicas que conquistaram ouros olímpicos (Rebeca Andrade, Beatriz Silva e Duda e Ana Patrícia), ela e La Porta prometeram abrir espaço para pelo menos duas outras gestores em cargos de diretoria:
"Teremos três mulheres na nossa diretoria, incluindo a vice-presidente. Cargos que de fato decidem. E faremos uma reformulação do organograma do COB, com auxílio da Deloitte (empresa de auditoria). Queremos acabar com essa monocultura esportiva, é precioso mais diversidade", prometeu La Porta.
Bicampeã dos Jogos Pan-Americanos, Yane ainda foi porta bandeira do Brasil nas Olimpíadas do Rio-2016, um ano antes de se aposentar e migrar para a então Secretaria Executiva de Esportes de Recife, onde foi secretária por seis anos até ser remanejada para assumir como Secretária Executiva de Esportes Educacionais, na Secretaria de Educação do estado.
Yane também defendeu maior autonomia para a Comissão de Atletas e contou que a gestão atual, a comissão tinha de passar pelo crivo da presidência para até enviar e-mails:
"São vários pleitos. Após o amadurecimento do grupo, a Comissão de Atletas precisa de uma estrutura organizacional que dê suporte aos atletas e de assessoramento jurídico independente. É preciso ainda ter estabelecido a quem esta comissão deve se reportar. Na prática isso não existe. E nossa proposta é que a vice-presidente seja esse elo direto, quem levará as demandas e que trará as soluções. Além disso, é preciso autonomia. Hoje, se a comissão quiser mandar qualquer e-mail, precisa ser endereçado à secretária de Wanderley, que depois o encaminha".
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